Jesus e a nossa esperança
Texto básico: João 21.1-14
Leitura diária
D 1Co 15.14-19 Base da esperança
S Jr 23.16,17 Sem vãs esperanças
T Rm. 15.4,5 Esperanças verdadeiras
Q 2Co 1.4-7 Sofrimentos e consolo
Q Mc 9.24,25 Esperança e falta de fé
S Mt 14.27,28 Quando necessitamos
S Jo 11.25,26 Esperança da vida eterna
Introdução
Acalma-te, emudece! (Mc 4.39) Uma forte tempestade agitava o barco dos discípulos. O medo e o pavor tomaram conta deles ante a possibilidade de afundar, mesmo com Jesus presente. Entretanto, o mestre atende ao pedido de socorro deles e profere as mencionadas palavras acalma-te, emudece. Diante dessa atitude de Cristo, fica até hoje a pergunta no ar, quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (Mc 4.41).
Mesmo após a sua ressurreição e ascensão as pessoas continuam a se perguntar quem é este. Sem incorrer em respostas simplistas, ou até mesmo em algumas mais elaboradas chegando até a afirmar aquilo que Jesus Cristo não é, no texto bíblico em questão encontram-se algumas respostas a essa desafiadora pergunta. João apresenta Jesus como o motivo para a esperança, pelas razões que mencionamos a seguir.
I. Jesus é o direcionador (vs. 5,6)
Os discípulos haviam trabalhado até ali, mas sem sucesso. Esse insucesso chegou a tal ponto que não tinham nem mesmo para o sustento pessoal (v.5). Entretanto, sob a ordem e direção de Jesus, eles acharam o que procuravam (v.6).
Será que eles já não haviam lançado a rede do lado direito do barco? Considerando o tempo gasto até ali (vs.3,4), com certeza já haviam lançado as redes para todos os lados do barco. Mas só sob a orientação de Cristo as pessoas podem ter sucesso. O que está em jogo aqui é a divindade do Filho. O Filho de Deus tem total controle sobre os elementos da natureza, a base sustentadora da vida humana (Os 2.5-9). Há a necessidade urgente de ir até Jesus em quem os seus discípulos encontraram direção divina. Os discípulos vasculharam cada parte, mas os resultados viriam somente sob a direção divina.
Isso nos dá uma grande lição a respeito da tentativa humana de buscar independência, de confiar na capacidade humana. Sete pescadores não sabiam mais do que Jesus a respeito de pescaria? Não eram pescadores de final de semana, mas profissionais. Perceba que Cristo chama para serem seus discípulos homens que estavam pescando (Mt 4.18-22). Pedro e André eram pescadores (Mt 4.18). É dito ainda que os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João estavam consertando as redes em companhia de seu pai (Mt 4.21). O que significa que Pedro, os dois filhos de Zebedeu e outros dois discípulos (talvez André e João. A respeito desses discípulos não se mencionam os nomes) eram pescadores profissionais. Aprenderam essa profissão com seus pais. Sabiam a melhor hora e os melhores lugares para pescar. Contudo, mesmo com toda essa tradição familiar, não obtiveram sucesso com seus esforços. Isso com certeza é para ensinar a todos os cristãos a não confiarem exclusivamente em sua capacidade humana, mas a terem esperança na direção divina. Não basta ter dons ou talentos, é necessário a orientação divina para utilizá-los de forma a trazerem edificação. Essa foi uma das lições ensinadas por Deus à igreja de Corinto. Uma igreja suprida com todos os dons (1Co 1.7), mas que ainda precisava aprender a buscar a orientação divina para usá-los para a edificação da igreja (1Co 10.12, 19,22,23; 12.7; 14.18,19).
Interessante notar ainda como fica a teologia da prosperidade[1] aqui. Por quê os discípulos apenas não tiveram fé e declararam aos peixes para pularem nas redes? Eram homens extremamente capazes naquilo que faziam. Por quê não decretaram aqui que a pesca seria vitoriosa e tomaram posse da benção (dos peixes)? A resposta é que esse ensino não é bíblico. Declarar e decretar as coisas não funciona com Deus. Há a necessidade do ser humano aprender a depender da direção divina. Depender e buscar essa orientação. Em vez de tentar declarar qualquer coisa por aí, é necessário os filhos de Deus buscarem a orientação de Jesus para jogarem as redes na direção correta. Esse texto é uma advertência divina àqueles que tentam encontrar seus frutos sem a orientação divina. Podem colocar as pessoas mais capazes, que aprenderam suas profissões com seus pais, que sejam pessoas de tradição em suas profissões, entretanto, sem a orientação de Jesus, os verdadeiros resultados não virão.
Note também que João exorta para o cuidado que os cristãos devem ter em relação a confiar na capacidade oferecida pelos sentidos. Os sentidos humanos não são capazes de captar toda a realidade à sua volta. Confiar exclusivamente nos sentidos humanos é ser simplista com relação à vida, porque, as coisas espirituais só se percebem pelo espírito (1Co 2.13). Esse texto demonstra, não que os peixes representam o aspecto espiritual da vida cristã, mas que os sentidos humanos não conseguem captar tudo a sua volta. Se não podem captar peixes, que se pode ver com os olhos humanos, que dirá o mundo espiritual, que só pode ser visto com os olhos da fé (Hb 11.1).
Note que somente após lançarem as redes ao mar é que João, o discípulo amado, reconheceu que era Jesus (Jo 21.6,7). Isso demonstra que eles foram ajudados por Jesus sem nem mesmo saber que era Jesus. Os seus sentidos foram capazes de ouvir a voz de Jesus, mas não foram capazes de perceber que estavam sendo orientados pelo próprio Deus-Homem. Muitas vezes a providência de Deus alcança seus filhos sem que eles percebam. O salmista havia entendido a respeito dessa extensão do cuidado de Deus ao exclamar que aos seus amados ele o dá enquanto dormem (Sl 127.2). O evangelista Marcos demonstra essa falha na percepção humana. Após estarem com Jesus algum tempo e irem para o mar, viram um vulto, mas acharam que fosse um fantasma (Mc 6.49). Nem que Deus diga que é ele, quando vai agir, ainda assim, os seus filhos têm dificuldades para acreditar (Hc 1.5). Isso tudo só demonstra a total dificuldade que os sentidos humanos têm para captar e interpretar corretamente a realidade a sua volta. É necessário confiar completamente na orientação divina. É isso que o texto ensina.
A esperança do cristão deve apoiar-se nas orientações de Jesus. É sob essa orientação que os filhos de Deus poderão construir cada etapa de sua vida. Dependemos daquele que pode ver o que os homens não conseguem. Cristo é a esperança daqueles que o buscam porque é nele que se encontra a direção de que todos precisam.
II. Jesus é o sustentador (vs. 5,9,12)
Jesus é quem sustenta a vida dos discípulos. Além de lhes dar a direção correta para alcançarem os frutos desejados, também sustenta a vida deles. Veja que, ao chegarem às margens do mar de Tiberíades, Jesus já estava com um pequeno fogareiro aceso, assando alguns peixes, e já havia providenciado alguns pães. Os discípulos não tinham comida nem para eles mesmos (Jo 21.5). Então, Jesus lhes dá a orientação certa e, enquanto eles pescam no lugar indicado, o mestre lhes prepara uma refeição. Note que, ao chegarem na presença de Cristo, já havia peixes e pães. Esses peixes utilizados por Jesus não foram os mesmos pescados pelos seus discípulos sob a sua orientação. São outros peixes. Depois é que Cristo pede que tragam alguns dos peixes pescados (Jo 21.9,10). O que Jesus ficou fazendo enquanto eles pescavam sob a sua orientação? Preparando o sustento de que necessitavam.
O sustento dos cristãos vem de Deus. E é isso que o texto enfatiza. Jesus é o sustentador. A providência divina está em questão aqui. Os cristãos devem buscar fundamentar sua esperança em Cristo não só porque ele é quem irá direcioná-los, mas também, porque é ele quem irá sustentá-los.
A multiplicação de pães e peixes em outras ocasiões, também aponta para essa direção (Mt 14.13-21; 15.32-39; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo 6.1.14). Embora essa não seja a lição principal das referidas passagens, não há dúvida de que em todas elas os evangelistas procuram demonstrar que os sustentos materiais e espirituais vêm das mãos do Cristo. É ele quem tem algo que vai satisfazer a fome humana.
Cristo tem condições de sustentar a vida de todos aqueles que vão até ele. Ele sustenta fisicamente mesmo aqueles que não reconhecem isso (At 17.28). Todas as coisas são sustentadas pelo poder de sua palavra (Hb 1.3). Aqui jaz o desafio. Buscar a Cristo, a razão da esperança dos cristãos, porque ele direciona e sustenta, principalmente os seus (1Tm 4.10).
Não é à toa que as Escrituras apontam a Jesus como sendo o pão da vida (Jo 6.32-35), aquele em quem todos podem buscar renovação de forças (Mt 11.28-30). Com certeza Jesus é a fonte de todo sustento físico e espiritual necessário à humanidade. Buscá-lo nas próprias forças é esquecer que ele provém de Deus (Dt 8.17,18).
III. Jesus é o consolador (vs. 3,4)
Jesus nunca abandona os seus, mas está presente nas horas mais difíceis. Pense no texto em questão. Um pescador pode ter dificuldades, mas sete? Isso é quase o cúmulo do absurdo. Contudo, esses pescadores tinham família. Alguns deles eram casados. Pensem nas mulheres e quem sabe filhos aguardando em casa o sustento. E, nesse caso, eles não tinham o que apresentar. O clima de frustração era total. E ninguém quer ficar ao lado de gente derrotada. Especialmente de madrugada (v.4) e mesmo após já ter estado em companhia destes (v.1) (depois disto). Jesus já havia se manifestado a eles. No episódio registrado em João 21, não havia a necessidade, humanamente falando, de Jesus manifestar-se a eles. Se fosse o caso de Jesus não haver se manifestado ainda, após a ressurreição, então tudo bem. Entretanto, não é esse o caso. Jesus já havia aparecido pelo menos duas vezes. Uma quando eles estavam dentro de casa com medo dos judeus (Jo 20.19-25). E outra vez, oito dias depois da primeira manifestação (Jo 20.26). Veja que o capítulo 21 de João relata a terceira manifestação de Jesus aos seus discípulos.
Bem, desobrigado a aparecer aos seus tendo em vista já tê-lo feito pelo menos duas vezes até então, Jesus aparece aos discípulos em um péssimo momento da vida deles. Isso com certeza para consolá-los. Onde estavam os familiares dos pescadores naquela madrugada? Com certeza, dormindo. E os seus amigos de pesca e até mesmo de discipulado? Também dormindo. Veja que o verso 4 começa a demonstrar que, de madrugada, quando não havia ninguém a quem recorrer na beira da praia, Jesus estava lá.
Os que já passaram por situações desoladoras, sabem da importância da presença daqueles a quem amamos. Somente a presença deles em circunstâncias como essas já serve de enorme consolo. Jesus estava em um lugar onde com certeza muito poucas pessoas gostariam de estar. Na presença daqueles que nada tinham a lhe oferecer. Na presença de pessoas em um clima de frustração total. Pessoas que necessitavam desesperadamente de consolo. Mas, Jesus estava lá. Ainda que fosse de madrugada, Jesus estava lá.
A presença de alguém no momento de sofrimento é tão importante que as Escrituras registram, no Antigo Testamento, um dos momentos mais marcantes na vida de Jó. A dor era tão grande que os seus amigos chegaram até ele para consolá-lo. E, a despeito do que fizeram seus amigos na conversa que se seguiu, inicialmente ficaram sete dias com ele (Jó 2.13). A presença deles era o seu consolo para Jó. Sete dias e sete noites presentes, consolando. A presença consola. A presença de alguém amado, em momentos de grandes dores, consola. E as Escrituras testificam que Jesus estava presente (Jo 21.4).
Outro momento de extremo consolo demonstra como a simples presença consola. Jesus transfigurou-se na presença de alguns dos discípulos para consolá-los (Mc 9.2-8). A perspectiva do sofrimento de Jesus na cruz era por demais pesada para seus discípulos (Mc 8.31-37). Então, Jesus transfigura-se diante de três de seus discípulos para renovar as esperanças deles. Pedro, Tiago e João, que estavam na pescaria relatada por João, após a transfiguração, olharam a redor e ninguém mais viram, só Jesus (Mc 9.8). Quando tudo desaparece, Jesus permanece. A presença de Cristo é tão consoladora e renovadora que eles gostariam de ter ficado lá no monte (Mc 9.5). Pedro chega a dizer que estar na presença de Jesus é bom (Mc 9.5).
Mesmo quando os discípulos estão passando por uma desventura, quando olham ao redor e ninguém vêem, percebem a presença de uma pessoa. Jesus. Estar com Jesus é bom. Sua presença é renovadora e consoladora. O consolo de estar com Jesus é o que renova aos seus discípulos a continuarem a caminhar a carreira cristã.
Veja que aspecto maravilhoso. A promessa da presença contínua de Jesus em meios aos seus (Mt 18.20) é dada no contexto de disciplina (Mt 18.15-19). Por que? A resposta é muito clara. Em momentos difíceis, como o de disciplinar a vida de alguém, Jesus estará presente. Esse é um daqueles momentos que, especialmente nos dias atuais, as pessoas (mês mo líderes) procuram evitar. Ninguém quer estar presente em um momento tão delicado. As pessoas com certeza não teriam grandes resistências para aceitar convites para festas de aniversário, casamento… Mas também, com muito mais certeza, têm enormes dificuldades para aceitar o convite de participar de um momento como esse. O momento de chamar a atenção de algum irmão que está se desviando da fé. É um momento constrangedor, delicado e indesejado pela maioria dos cristãos. Entretanto, mesmo em um momento como esse Jesus prometeu sua presença.
Esse é um dos aspectos chamativos do texto em questão. João chama a atenção para o fato de Jesus estar sempre presente, quer sejam momentos de disciplina, quer sejam momentos de frustração profissional ou ministerial. Qualquer que seja o momento constrangedor que poucos gostariam de presenciar, Jesus estará lá. Por isso, ele é o consolador. Sua presença consola. Sempre há momentos na vida dos filhos de Deus em que estarão sozinhos, humanamente falando. Mas, Jesus estará ali. Mesmo que seja um momento em que a maioria (para não dizer ninguém) gostaria de estar perto, Jesus estará. Por isso, ele é o consolador. Ele não só direciona e sustenta aos seus seguidores, mas, também está sempre presente, ainda que seja de madrugada. Com certeza, Jesus estará lá, consolando com a sua simples presença.
Conclusão
Veja que o texto traz ensinos claros e poderosos em relação a Jesus Cristo. Ele é a base da esperança cristã. Nele os cristãos podem encontrar direção, sustento e consolo. Todo o evento registrado por João aconteceu após a ressurreição. E é por isso que Paulo diz que, se Cristo não ressuscitou, é vã esperança cristã (1Co 15.14,19).
Aplicação
O que faz de Cristo alguém credenciado para dar esperança àqueles que o procuram? Onde você tem buscado fundamentar a sua esperança?